Em Atividade Duvidosa

EM ATIVIDADE DUVIDOSA

peço licença:
com cautela me mostro,
calculo o risco e aposto minha chance de ficar em paz
(mas tanto faz)

peço a palavra:
com muita calma duelo,
meço a palavra e revelo conflitos de qualquer cabeça!
a língua vibra uma fala extensa,
sem classe, sem categoria, sem categorização.

não sou artista não,
no máximo ensaísta ou penso a dor
(o resultado da dor, do alívio e do sentir nada).
mero abridor de vida enlatada!
mero abridor de vida enlatada!
então não cabe rótulo,
não cabe mestre, não cabe apóstolo,
nem hóstia, nem vinho, nem ósculo, nem convenção, nem direção...
vez em quando me chamam Perdição.
sou apóstata
apóstata
a-pós-ta-ta
e passo de toda fé, de toda verdade absoluta:
tenho a crença enxuta no desconhecido e,
depois de ter anoitecido,
amanheci.
e acordo comigo mesmo um acordo de se manter acordado:
viver é sempre resultado da mudança,
dispenso a esperança de permanecer igual.
amanheci animal
e não anoiteço mais,
aconteço, aliás, do jeito animalesco de acontecer:
sempre pergunto o que é viver,
sempre pergunto o que é viver!
e sempre me meto a responder da forma mais imperfeita:
acendo um careto e ilumino algum careta.



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