Intro

O último erro do pecador
Foi ter caído diante das colheitas secas
E pedido perdão
Enquanto as formigas lhe comiam a carne
E os vermes se aproximavam esperançosos
Em vez de virar a fúria e o fogo em direção ao céu
E mandado foder todas as formas de tirania fetichista e divina
E vingar-se das filhas da putice de deuses infantis com egos inflados

Eu vejo-me a deslizar na fronteira em que se espera o Armageddon
A transbordar Litost, Toska e Saudade
A remoer o remorso do que não fiz nem disse
Sem assunto nem conversa
E a oferecer silêncios frios
Por trás do olhar mudo e raivoso
Culpado e cinzento
Que não pedi mas não escondo
Arrependido sempre
A afogar-me no pensamento
A querer amar as coisas que o ódio me impede de ver

Mas a liberdade persegue-me
E eu preciso de ser livre
E estes pedantes de merda
Deixam-me no limiar da psicose
Já fora de moda e fora de prazo

E quando nada é uma surpresa
Eu só quero ouvir o som da morte
Parar de viver atrás de personagens fictícias às quais nem dei nome
Quando o sabor de amanhã
É garantidamente
A repetição expectável do desastre de ontem
Sinto-me abaixo disso tudo
E é tarde demais para aprender a jogar
E vou dando os parabéns
A quem ganha o jogo
Que nunca estive interessado em ganhar
E naquele dia
Como em tantos outros
Não queria mais que reinar glorioso na vã glória
Que o quotidiano me impõe
E refinar o meu "Eu"
Saí certamente vitorioso
Uma afirmação da derrota
Quando se joga à brincadeira do sistema

Então
Liberto os demónios
Todos
Um por um

Para os encontrar
à noite num bar
e bebermos juntos
e sair à procura
De encontrar os anjos a quem dei asas
E rebentar com eles
E calar-lhes o riso
E violá-los no parque
E violá-los no parque
E olhar para os seus corpos caídos do outro lado da fronteira
Ver o horror da inocência mutilada
Manchada de sangue, de lama e de olhares
Enquanto animais moribundos
Boiam nas águas turvas do rio
E sobem contra a corrente
Enquanto esperam o mistério da morte
Sobem a perder de vista o mundo
E a ameaçar um amanhã de horror

E quem passou a fronteira fui eu e só queria voltar
E quem passou a fronteira fui eu e só queria voltar
E quem passou a fronteira fui eu e só queria voltar

Nunca mais sucumbir à Litost, Saudade e Toska
Adormecido por todas as drogas que viram contra o ser
O ódio a quem não se dá rosto

Não se mata as formigas no solo
Por se ver nelas a superioridade alegre e pateta
E a imbecilidade do trabalho contínuo
Sob o misterioso encanto das feromonas da rainha
Porque espelham a nossa própria e embaraçosa desgraça
Com a graça leve e a alegria que nos falta
Até restar só
A agoniante vontade
De esmagar
Tudo



Credits
Writer(s): Vasco Ruivo
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