O Actor

Uma pequena nota
Na secção cultural
D'um jornal regional
Dizia que tinha morrido
Alguém especial

Pelos vistos
Era um cota
Que tinha sido
Fundamental
Para a renovação
Do teatro em

Certa tarde
Na cinemateca
Um homem veio-nos abordar
Disse à Jules
Que adorava Pega
Tinha-lhe sido a filha a mostrar
Noutra tarde
No Estádio, à espera
Do Lou, da Sophie e do Sar
Veio-se sentar
Cravou-me uma média
Achei seca mas deixei-me estar

Dizia que tinha cantado
Com o Zeca, Zé Mário e Fausto
Há mar, há ir e vir
E talvez não voltar

Eu disse a gozar
"o senhor mente"
E ele cantou p'ra toda a gente
E eu passei por idiota
Porque a música era excelente

E ele a cantar
Todo contente
O momento foi comovente
Cantou à boca cheia
Mesmo sem um outro dente
O Zé Lopes não mente!

Eu era um rato na roda
Dos sítios da moda
E da noite em geral
Ele p'ra desconto sénior
Até era jovial

Eu era tipo uma anedota
Sobre um idiota
Que se acha especial
E aquele velhinho tão querido
Tinha vivido tão

Cheio de culpa
Fui à procura
Do sítio do funeral dele
Fui porque vi que ele vivia na rua
E a filha deixou um apelo

Cheguei lá, e aquela luz branca
No Centro Ideal
Há uma igual
Foi a luz que serviu de alavanca
E se isto não é um portal?

Morrer é igual
Ao que fizeste na vida
De bem e de mal
Então deixa-te estar na luz
Não penses mais no final

Que entre ser quase
E nunca ter sido
O caminho é igualzinho
Quando se anda tão sozinho
Não se vê bem o destino
E ele a cantar
Todo contente
O momento foi comovente
E eu passei por idiota
Porque a música era excelente
Zé Lopes não mente



Credits
Writer(s): João Marcelo, Lourenço Crespo, Mariana Pita, Miguel Abras
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