Se Calhar

Deixa-me ir ver de perto o mundo todo
E entender o que há p'a lá de um muro torto
Mas sinto muito olho a ver se perco o controlo
Então eu mudo de cor para o tom do palco onde 'tou
Porque eu 'tou numa guerra e o palco é trincheira
E a membrana do mic aligeira
Na verdade eu vacilo e a mim cheira-me
Que em letras não encaixo peças duma vida inteira
No meu bloco - sem Tetris
3 toques na madeira e são hat-tricks
Cruzei-me com a auto-estima "méquié bitch?"
Ela disse que é atriz e que faz bué tricks
Só p'a fugir de mim isso é... bué triste
A auto-aversão é fetiche
Então na solidão há confettis
Uma festa e o som é catchy
Logo eu danço todo cego tipo um arquétipo de bad trips
Juntei-me a ela e contra mim venho em tag teams
Mais fraco que o Ricardo no Bétis
Tirei a luva branca, a chapada é no cerne e já nem sou súbtil quando quebro (yo)
Forneço ao meu verso um teor que eu não tinha caso eu não tivesse aberto o meu corpo
Ao universo interior
Conversas a ver se eu convenço o senhor
Que talvez o avesso é melhor

(... mas não é, não é, não é... o avesso não é melhor, e eu sei)
(... sei lá mano, às vezes eu simplesmente não 'tou a sentir a cena, 'tás a ver?)
(... se calhar tenho de escrever outra vez, se calhar tenho de pegar noutro beat...)
(... se calhar isto não é pra mim...)
(... se calhar tenho de cagar só nesta merda, 'tás a ver?... eu tentei e não deu)
(... se calhar não fui feito pra isto...)
(... se calhar se eu não fizesse isto era mais pacífico...)
(... é mesmo assim, ya...)

Perdi-me numa lista de what ifs
Fartei-me e queimei-a vou fumar isso
Tão high que eu saltei do aquário
Não sei onde aterrei só sei que eu não faço parte e fujo
Mas sou bom ator, se 'tou na party curto
Derreti brain cells com tal magnitude
Numa chance de rapper, eu largo magma e cuspo, ya...
Porque eu só preciso de uma chance, é mesmo isso
Para saber que não mereço
E a meu ver, desde o meu berço
Que tudo o que acontece nunca foi assim tão simples
Mas é assim que chego ao fim de mais um dia nos meus vintes
Em que sinto que a vida é uma festa sem convite
Nela dou concertos sem ouvintes
E ando acompanhado por um freak, talvez frite...
Ou talvez singre, não há meio termo no meu timbre
Então um brinde a que eu vingue enquanto oscilo e vou-me rindo
No ring com o planeta e um espelho - 'tou numa luta
O que aponto, a caneta ou o dedo? Quem tem a culpa?
Eu aposto que essa cena cá dentro 'tá bem oculta
Não 'tou pronto, a terapeuta vem cedo e trouxe a lupa
À procura da versão de mim que sabe que a pergunta
Que me trouxe aqui não vai ter resposta nunca

Eu sei... que da faísca eu dou o lume
Eu sei... se 'tou na bisca, tenho trunfo
Eu sei... que p'a 'tar fixe eu tenho tudo
Menos tempo, eu nem durmo
Mesmo assim não cedo o meu turno
Eu sei... que da faísca eu dou o lume
Eu sei... se 'tou na bisca, eu tenho trunfo
Eu sei... que p'a 'tar fixe eu tenho tudo
Mas a dúvida não é impune
Ao menos em rima vem puro

"Sentiste este?"



Credits
Writer(s): Duarte Cabrita, Nuno Sousa
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