solar

eu não vou mais contar
da minha vida
já falei demais
tu não quis me ouvir
agora deu briga

eu não vou, não vou me aventurar
em mais contas que cabe na ponta
do lápis que desenha o rastro de incenso
do cigarro de maconha

flutuo, logo abraço
a minha culpa
de andar cada vez mais
devagar
prefiro me abrigar
na própria chuva
e aceitar que não dá
pra dançar cada vez mais
devagar

nem quero saber
das barras de saia
becos sem saída
eu só quero abraços
e abraços de preguiça

eu não vou, não vou me aventurar
em mais contas que cabem nesse colar
coleção de tez e de filtro solar
no fim pra mim bronze é só sépia que brilha

a gente era bem mais feliz no verão passado
antes das montanhas de trabalho
mais silêncios, menos ruídos
no fundo do colo do ouvido
tudo, tudo tem seu filtro

logo abraço
a minha culpa
de andar cada vez mais
devagar
prefiro me abrigar
na própria chuva
e aceitar que não dá
pra dançar cada vez mais



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