Âmago

Cada manhã que nasce
Me nasce uma rosa na face

Flor se abriu em pleno inverno
Nasceu, feriu, desafiou suave o tempo
Eis a vez, mais uma vez de se olhar e ver ao longe
No horizonte, além do monte,mais adiante
Está o abismo do sonhador, fui eu quem saltou
Ainda faz calor, abraço a dor
Nu como estou, eu faço o céu de cobertor
Olha a lua, olha o dia
Lhe deixei na escrivaninha
Um botão de flor vermelho como a vida
Plantei mil flores no teu quintal
Mil flores ao mal
Mal de amar, enfim
Sonhar, enfim
Arder no fim
E a tarde cai em queda livre
Cai a fonte, se faz rio, corre em terra
Chega ao mar e sobe em nuvem
Chora em chuva
Molha o rosto de alguém
Que olha na multidão infernos no céu
O dia vai nascer

Me espera, quanto menos se espera
Uma flor vai se abrir revelando o segredo de ser
Sou eu, o beija flor primeiro
Extraindo no sumo do amor a canção que se fez
A flor traz no âmago a dor
Eram três da manhã
No relógio da esquina
Que há tempos parou



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