Ipiranga

(Estamos falando de uma das mais conhecidas regiões de São Paulo)
(O sub distrito do Ipiranga tem quase meio milhão de habitantes)
(E engloba os bairros de Sacomã e Cursino)
(O bairro abriga também a maior favela da cidade, a de Heliópolis)
(Mas o jeito simples do interior, a simplicidade e a nostalgia)
(Parecem ser eternas nas ruas do Ipiranga)

O sol nasce no Ipiranga majestoso igual Don King
Treinando cada guerreiro pra ser o melhor do ringue
Swing de quem, não teve nada de bandeja
Aprendi no meu bairro que quem não reage rasteja

De paixão que lampeja a promessa de ternura
Terra de pais ausentes e gravidez prematura
Da onde eu venho se vive o momento
Num xadrez feitos de peões o único rei é o tempo

Meus heróis são arriados em toques de Alujá
E tragédias gregas crescem vestindo C&A
Barulho de CG, cuba libre e rebeldia
Ensinaram que sonhos são nossa melhor companhia

Função na pizzaria biriri, da Nokia
Fichas criminais sujas de vinhos de paróquia
Velhas fofoqueiras inflamando problemas
E cada vez que riscam um fósforo ascendem poemas

Cada esquina em silencio guarda um flerte de horas vagas
Desabafos solitários de bebuns afloram chagas
Boteco não é escola, mas meu bairro criou
Um professor em cada bar que conta o que a vida ensinou

Entre restos e rostos moram crenças e vícios
Vim do bairro onde sonhos são maiores que sacrifícios
Onde o asfalto se mistura com as ruas de terra
E nas quermesses de junho trocam-se histórias de guerra

Seja bem vindo onde seu suor tem valor
E sob a benção de Deus parte o trabalhador
Seja bem vindo ao Ipiranga
Seja bem vindo ao Ipiranga

Onde crianças são anjos entre nobres vagabundos
E o fim do mês assusta muito mais que o fim do mundo

Seja bem vindo ao Ipiranga
Seja bem vindo ao Ipiranga

Somos poemas pra ninguém, tradição oral de um povo leigo
Infernos individuais dentro de olhares meigos
Ráfia e farrapos, luzes na Cursino
Quentes como o sol nossos beijos selam destinos

Camafeu de ilusão feito de arsênico e benzina
Sofá coberto com plástico e enquadros de rotina
Pancadão rola nas caixas, duelo, polo listrada
Tubaína em saco plástico e Sam Remí gelada

Eternas festas de quebrada e o trabalho, que se foda!
Cê tá no Ipiranga vem curtir a noite toda
Traz os fardos, liga o som, goró cor caramelo
Chama as gatas e vê vilão se emocionar ao som de Belo

Anos atrás, Sampa Crew e Sidra Cerezer
No Black da Vergueiro na busca de um affair
Das minas mais recatadas até as mais sem vergonha
Foda-se Amsterdã a gente tem a melhor maconha

Aqui pinos são cifrões e fortuna se faz
De sonhos destemidos que morrem jovens demais
Nossa chance é fugaz e mães que esperam o pior
Enquanto caímos de amor por uma vida melhor

Meu bairro é a prece e a blasfêmia a cruz e a espada
Onde poucos vivem por algo e muitos morrem por nada
Eu amo a minha quebrada, mas o mundo moderno
Faz minha vila ser mais quente que a cozinha do inferno

Seja bem vindo onde na arena vazia
A esperança transforma a vida em poesia

Seja bem vindo ao Ipiranga
Seja bem vindo ao Ipiranga

Onde sorrisos e lagrimas são dor e delicia
E o som não abaixa nem com presença de policia

Seja bem vindo ao Ipiranga
Seja bem vindo ao Ipiranga

Salve!
Sejam bem vindos ao Ipiranga, onde o melhor dia é o hoje
E o agora é uma dádiva chamada presente
Onde os raios de sol são brilhos afiados que exaltam os ânimos, os vícios e as virtudes de cada um
E aonde o bem e o mal são definições de pontos de vista
Meu bairro é a loucura dos amantes, a rotina dos casais
E aonde os orixás dançam garantindo a festa da vida em cada amanhecer
O show dos contrastes e da vida simples
Onde gambiarras fazem pontes pra se alcançarem sonhos

Saia pra ganhar o mundo, mas não esqueça da sua quebrada
Porque se um dia você precisar voltar, que você volte de cabeça erguida
E ela te encontre de braços abertos

(Marcello Gugu)

(Oh, meu Ipiranga meu coração bate por ti)
(Nesses versos eternizo a grandeza desse bairro onde eu vivo)



Credits
Writer(s): Marcello Gugu, Eduardo Dos Santos Balbino
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