Cântico Negro / Não Enche (Ao Vivo)

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"

Eu olho-os com olhos lassos
E há nos meus olhos, ironias e cansaços
E eu cruzo os braços
E nunca vou por ai...

A minha glória é esta
É criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre da minha mãe
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Eu prefiro escorregar nos becos lamacentos
Redemoinhar aos ventos feito farrapos
Arrastar os pés sangrentos
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi somente para desflorar florestas virgens
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
E o mais que faço não vale nada

E como pois sereis vós
Que me dareis machado, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
Corre nas vossas veias o sangue velho dos avós
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o longe e a miragem
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

E tenho a minha Loucura!
Levanto-a como um facho a arder
Na noite escura
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou
É uma onda que se alevantou
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou
Não sei pra onde vou
Mas sei que não vou por aí!

Me larga, não enche
Você não entende nada
E eu não vou te fazer entender

Me encara, de frente
É que você nunca quis ver
Não vai querer, nem vai ver

Meu lado, meu jeito
O que eu herdei de minha gente
Nunca posso perder

Me larga, não enche
Deixa viver, me deixa viver
Me deixa viver, me deixa viver

Cuidado, oxente!
Está no meu querer
Poder fazer você desabar
Do salto, nem tente
Manter as coisas como estão
Porque não dá, não vai dá

Quadrada! Demente!
A melodia do meu samba
Põe você no lugar

Me larga, não enche
Me deixa cantar, me deixa cantar
Me deixa cantar, me deixa cantar

Harpia! Aranha!
Sabedoria de rapina
E de enredar, de enredar

Perua! Piranha!
Minha energia é que
Mantém você suspensa no ar

Pra rua, se manda!
Sai do meu sangue
Sanguessuga
Que só sabe sugar

Pirata! Malandra!
Me deixa gozar, me deixa gozar
Me deixa gozar, me deixa gozar

Vagaba! Vampira!
O velho esquema desmorona
Desta vez pra valer

Tarada! Mesquinha!
Pensa que é a dona
E eu lhe pergunto
Quem lhe deu tanto axé?

À toa! Vadia!
Começa uma outra história
Aqui na luz deste dia "D"

Na boa, na minha
Vou viver dez
Vou viver cem
Vou viver mil
Eu vou viver sem você

Vagaba!



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