Temporal

Quem viu a terra gemer
Nos dentes brancos do mar
E a laje fria da espuma
A sete palmos do olhar

Pisou as curvas do mapa
E os raios do sol nascente
Tocou as cordas da harpa
De aço incandescente

Eu percorri todo o sonho
No meio da madrugada
E vi plantações de balas
Sementes da espingarda

Eu mato, matas e mato
Quem fala não mata não
Quem cala consente a fala
E os gritos do capitão

Quem viu os cachorros negros
Latindo para o luar
E o vôo vão dos morcegos
Gritando mudos no ar

Conhece a força guardada
Na mola dos temporais
Escurecendo as estrelas
Nos ombros dos generais

A mais cruel armadilha
Encruzilhada dos fins
E os alicerces das ilhas
Roídos pelos cupins

A fina dor da ferida
Doendo até no facão
E o mapa da minha vida
Na palma da minha mão

Quem viu o braço da sombra
Das folhas de uma palmeira
Pousar em carícia longa
Nos ombros da terra inteira

Ouviu da boca da noite
Feroz silêncio mortal
E viu o bobo da corte
Dançando no funeral

A mais cruel armadilha
Encruzilhada dos fins
E os alicerces das ilhas
Roídos pelos cupins

A fina dor da ferida
Doendo até no facão
E o mapa da minha vida
Na palma da minha mão

Pisou as curvas do mapa
E os raios do sol nascente
Tocou as cordas da harpa
De aço incandescente

Conhece a força guardada
Na mola dos temporais



Credits
Writer(s): Braulio Fernandes Tavares Neto, Flavio Eduardo Maroja Ribeiro
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