Nos Braços da Madrugada

Num baita trago saiu da venda
campeando a sorte numa outra olada.
Da boa pinga, com a lã molhada,
perdeu no pasto toda a encomenda.

E via estrelas,
e via o céu,
sentindo a geada
que pela estrada
cai de boléo.

Chegou na estância naquele tranco,
sem oh-de-casa, de madrugada.
E a lua cheia, no céu parada,
pisava as pedras do pátio branco.

Campeando a pipa,
foi na ramada...
Bebeu um bocado
e soltou o bragado
de cola atada.

E a noite fria, de lichiguana,
morreu nos braços da madrugada...
Quando a doninha, tão preocupada,
abriu os pelegos da sua cama.

E a noite fria,
numa tarimba,
não acha o sono
nesse abandono
daquela timba.

E ali nomais se encheu de lua
quem tinha a alma encarangada...
Melhor que um pala de lã cardada
é o aconchego de uma chirua!

Nem via estrelas,
nem via o céu,
nem via a geada
que pela estrada
cai de boléo.



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