João Facão

João Facão palmeia o cabo
dum tramontina três listas,
que até parece um pincel
sob o manejo do artista.

Reboleando com destreza,
num jogo, troca de mão;
e dum jeito debochado,
arrasta a ponta no chão.

João Facão - gato do mato -
não pisca e nem erra o pulo,
tão pouco tenteia a sorte
com tava feita pra culo.

Mas quando Deus se distrai,
brinca com as coisas do diabo
e no miolo do rodeio
escarva igual touro brabo.

João Facão destapa a cara
tombando o chapéu na nuca,
pra "inxergá" o mundo na volta
e aonde senta a mutuca.

Pisa "liviano" no chão,
espera o golpe do outro,
qual tirasse o corpo fora
do manotaço dum potro.

Na redondeza é falado,
tem fama em toda a fronteira,
por bochinchear nas bailantas
e comércios de carreira.

João Facão boleia a anca
e escora o que vem por cima.
Rebate ferro com ferro
com maestria na esgrima.

João Facão, quando atropela,
dita as regras do namoro...
Às deva, é de quina viva.
Às brincas, larga de estouro.

Porém sabe que a coragem,
por fraqueza, se anuncia,
se o medo for traiçoeiro
e a força for covardia.

João Facão - história antiga -
por justiça ou diversão,
peleava com a própria vida
no fundo de algum rincão.

Viveu no tempo em que o homem,
sem fibra, não era aceito;
E mais que ser peleador,
morria pelo respeito.



Credits
Writer(s): André Teixeira, Rogério Villagran
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