Costura

Meu Deuzinho, vou pegar o meu cabelo
Costurar o mundo inteiro
Na renda do travesseiro
Onde eu costumo sonhar

Costurar um pedacinho da Bahia
Na cintura do meu dia
Na fivela do pensar

Toda a fome existente nesse mundo
Quero costurar no fundo
Pro sofrimento abrandar

Costurar o céu na terra
E a terra no meu peito
Emendando do meu jeito, meu pensar

Quero costurar as europa no nordeste
Lorde com cabra da peste
E o sol dentro do luar

Quero costurar a estrada no joelho
E a curva no cotovelo
Contornando meu cantar

Todo amor que eu costurar no coração
Vou dar nome de uma nação
Pra melhor eu relembrar

Todo amor foi sentimento verdadeiro
Parece que foi ligeiro
Parece que vai passar

Costurei o meu sofrer
Pro trovão não acordar
Mas a chuva quis chover
Meu sofrer, vai desaguar
Cerca, ajuda, não corre, não
Chama, prende, pisa no chão

Todo sonho costurado é um bordado
E o avesso é o outro lado
Vê-se o mar, vê-se o sertão

Costurei o fim do mundo
Na doçura de um segundo
Falou alto o vagabundo coração

A poeira avermelhou a minha testa
Mas eu costurei depressa
Na panela de feijão

Essa água da bacia me interessa
Pra lavar a minha testa
Pra molhar a minha mão

Costurei a Asa Branca de Gonzaga
Pra que ele sempre nos traga
O lamento, o ribeirão

A alegria é uma coisa instantânea
Vejo as tardes de Goiânia
Costurei a imensidão

Costurando, costurei com a minha costura
Costurei vida futura
Sem costura, não dá não
Cada ponto, cada porto, cada jura
Costurei a vida dura num pedaço de sabão

Costurei o meu sofrer
Pro trovão não acordar
Mas a chuva quis chover
Meu sofrer, vai desaguar
Cerca, ajuda, não corre, não
Chama, prende, pisa no chão



Credits
Writer(s): Orlando De Morais Filho
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