Ponto de Vista

Sou míope e vejo
Fora de foco toda a divisão
Colírio pra colher lírio
Em campo de visão
A minha retina
Tá cansada da rotina
É cada em seu quadrado
Igual na televisão
A menina dos meus olhos
Sofre com a misoginia
O grau de dificuldade
Nem se compararia
Se meus olhos fossem claros
Nesse mundo de trevas
Talvez com uma luneta
Alguém me avistaria
A PM não revistaria
E não me dava um trato
Quem sabe se eu trocasse
A cor da lente de contato
Contanto me olham torto
Mesmo estando estático
Pra mim são tudo estrábico
Você não sabe o quanto é foda
Quando te olham atravessado
E atravessam pro outro lado
Armas são
A armação da moda
Me mantenho calmo
E faço a curva
Pra quem tem visãozinha turva
Sou oftalmo

Com a pupila dilatada pela luz
Que conduz a cegueira - eu não enxergo nada
A lente tá embaçada porque me pus a correr
De quem não quer ver que vive com a verdade vendada

E a ótica caótica na teoria funciona
Mas não me menciona quando deveria
Invisível na multidão e se tem mute, dão
Nem se eu quisesse, me ouviria
Eu sou cego em tiroteio
Mas não tô perdido
Caminhando no escuro
Eu enxergo às claras
Tipo raras ocasiões
Em que patrões
Conseguem ver funcionários
Além das caras
Na hora H vejo em 4k, uhd
O globo ocular
Sabe ocultar
E a rua cadê?
É um insulto que eu vire um vulto
Nesse culto à beleza
Onde quem não tem clareza
Mofa à mercê
Dessa ideia embaçada
De preto combinar com tudo
Menos estudo
E posse de uma morada
Tosse apurada e glaucoma
Mais um que entra em coma
E vai morrer sem ver nada

Com a pupila dilatada pela luz
Que conduz a cegueira - eu não enxergo nada
A lente tá embaçada porque me pus a correr
De quem não quer ver que vive com a verdade vendada