Retrato dos Meus Pelegos

Uma ovelha branca da mais pura raça
Pariu dois lindos cordeirinhos machos
O mais esperto eu deixei com ela
O outro adotei de pronto e criei guacho

No dia que sangraram os dois borregos
Foi um pouco de mim, pois perdi tudo
Vi o olhar deles a pedir socorro
E o meu chorava em desespero mudo

Mas ninguém viu e nem ouviu meu pranto
Só uma rolinha agitou as asas
E em silencio todo passaredo
Ficou tão triste nos beirais da casa

Tudo sucumbe ao tempo transcorrido
E assim se vai feito a flor da idade
E quem não chora um amor perdido
Ou não suspira ante uma saudade

Tudo sucumbe ao tempo transcorrido
E assim se vai feito a flor da idade
E quem não chora um amor perdido
Ou não suspira ante uma saudade

Ainda tenho em mãos os dois pelegos
Já que a nenhum coubera melhor sorte
E o criador que o separara em vida
Tragicamente os uniu na morte

Quando acampava o relento na pampa
Sem ter viva alma para ouvir meus ais
Chorei silente debruçada neles
O que tivera e já não tinha mais

E ainda tenho um pelego roto
Um galpão antigo que o meu pai fez
Onde o maninho que não mais existe
Engatinhou pela primeira vez

Tudo sucumbe ao tempo transcorrido
E assim se vai feito a flor da idade
E quem não chora um amor perdido
Ou não suspira ante uma saudade

Tudo sucumbe ao tempo transcorrido
E assim se vai feito a flor da idade
E quem não chora um amor perdido
Ou não suspira ante uma saudade



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