Seu Espinho e Flor de Tuna

Seu Espinho era do campo
Morador da serrania
Era lanceiro de noite
Mas era espinho de dia

Flor de Tuna era caseira
Usava saia de chita
De dia se achava feia
De noite andava bonita

O pé de tuna do campo
Era o cenário perfeito
Pra um amor de flor bonita
E um espinho de respeito

Seu Espinho, moço novo
Se apaixonou pela flor
Mas tinham muitos no campo
Que juravam o mesmo amor

Ele era espinho de fato
Meio rude, mas direito
Só era de fazer mal
A quem chegasse sem jeito

Flor de Tuna tinha graça
Mimosa de flor vermelha
Só mostrava seus sorrisos
Pra receber as abelhas

Mas Flor de Tuna se abria
Quando a lua despontava
Rodava as franjas da saia
E pra todos se mostrava

Deitava sobre os espinhos
Judiava deles sem dó
Amor sem ser dos dois lados
É amor de um lado só

Quem passasse assim, olhando
Às vezes falava baixinho
Como pode a flor de tuna
Dar flor bonita e espinhos

Mas num domingo, à tardinha
Passou um gaúcho na estrada
E levou a Flor de Tuna
De presente à namorada

Levou a mão entre espinhos
Com jeito arrancou a flor
Seu Espinho e outros tantos
Viram partir seu amor

Não puderam fazer nada
Hoje lamentam sozinhos
Era bonita demais
Pra viver entre os espinhos

Flor de Tuna foi-se embora
Nem adeus disse na ida
Pareceu que não gostava
Nem um pouco dessa vida

Foi nas mãos de um cavaleiro
Para enfeitar um ranchinho
Vai sentir falta de casa
Murchando devagarzinho

Mas Seu Espinho ainda chora
Noites inteiras de mágoas
Flor de Tuna foi pra longe
Foi morar num copo d'água



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