A História do Sal

Fugindo do pecado
Ela virou o rosto
Curiosa, ingênua, fátua
E o bem, que é rigoroso
Verteu o breve gozo
Em seco sal de estátua

Foi pena muito amarga
Tornar pedra salgada
Quem só olhou o mal
Mas foi o instante exato
Que a história do pecado
Cruzou-se com a do sal

Havia um mar tão vasto
De monstros e sereias
E um fosso no final
E havia aquela cruz
No mapa das estrelas
Olhando para o sul

Desafiando o azar
Lancei as minhas naus
Às águas temerárias
E as mortes foram várias
Vertendo o sal das lágrimas
Ao sal das novas praias

São séculos e sagas
No vórtice das águas
No amargo do teu sal
Como negar, assim
O mal que existe em mim
E o bem que está no mal

Por isso, às madrugadas
Retorno sempre ao mar
Preciso navegar
Colher o sal, preciso!
Viver é naufragar
Aos poucos nesse abismo

Por isso, às madrugadas
Retorno sempre ao mar
E, mais que terra ou porto
Preciso do teu sal
E, aos poucos, naufragar
No abismo do teu corpo



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