Valsa de António dos Santos

Diz-se em Barrancos
Que António dos Santos
Com quarenta e tantos
Nunca soube a que sabe a satisfação
De um dia de Verão
Julga o sacristão
Que é vilão

Seu verdadeiro eu
Ninguém conheceu
Porque a solidão de António tem sabor

Não é de arraiais,
Nem de vestes formais
Nem de férias estivais
e não vai à bola porque não conduz
e não se seduz
Com folhas da cruz ou menus

Mas ele também tem fé
No homem que é
E o longe que ele quis
Está na raiz

Tem a vida toda a seus pés
Porque já lhe sobra ser quem é
Viver médio
Sem ter media
Curta a rédea
De existir

Consta o boato
Que o bicho do mato
Lá no seu recato
Nos prega uma praga e é ele que mica
As curas da botica
E as flores da Chica
Erradica

Mas nunca ninguém viu
As vezes que ele já sorriu
Para os gatos que lh'assaltam o quintal

E o diz que disse
Diz que é esquisitice
Esperar a velhice
E por-se parado a pensar
Sem vagar
De prosperar noutro lugar

Mas quão bom é planar
Ficar sentado a olhar
P'ra as coisas que são
E aquelas que não

Tem a vida toda a seus pés
Porque já lhe sobra ser quem é
Viver médio
Sem ter media
Curta a rédea
De existir

Tem a vida toda a seus pés
Porque já lhe sobra ser quem é
Viver médio
Sem ter média
Ou tragédia
Ou comédia
O seu tédio
É o remédio
De existir

Viver médio
Sem ter media
Curta a rédea
De existir



Credits
Writer(s): Francisco Mendes, Gabriel Tocha, João Morgado, João Pinto, Pedro Falacho, Tiago Silveira
Lyrics powered by www.musixmatch.com

Link