A Nova Fome

Temos o poder da escolha em nossas mãos
O tempo tá passando, caçando o que fazer
Andando sem destino, coisas para resolver
A barba por fazer, rodopiando em casa
Feito barata tonta, as contas atrasadas

Não sabe o que dizer, querendo um revólver
Se aponta pra si mesmo, se aponta pra você
Sentado a revolver, bota a mão na cabeça
E aperta bem os olhos, antes que essa chuva desça

Se desse, decidia desse dia em diante
Perante Deus e o mundo, prometer naquele instante
Não ser um meliante, mas ser um militante
Por não haver vigília tá perdido como Dante

Criando esperanças de um dia sair vivo
Alma de criança, instinto de narciso
Não conta com ninguém, só conta se consegue
Mudar realidades contando só consigo

Não dá pra ser conciso, embora seja isso
Vivendo pela fome, pois matar é compromisso
E a mãe reza na missa, o filho não acredita
Não vê que é um milagre, os perdidos na polícia?

O amigo na perícia, conheceu lá na perifa
Chamado de indigente pela gente bonita
Padrão de carne tinta é claro o fundamento
Mas o fundamento preto enterrado é macumba?

Tordesilhas, tomaram por direito
Terras habitadas, jeitinho brasileiro
E quem morava nela, sebo nas canelas
Vivendo na floresta ou no meio da favela

Tu não tá me entendendo?
Eu não tô falando grego?
Mas quem aplaude eles
Acha que eu boto grilo na cabeça dos cria'

Só podem ser palmito
Mas se for um queimado
No acredito, não acredito

Muito tempo de opressão
Desde de antes da depressão
Um ano antes da proclamação
Acabavam com a escravidão

Nosso primeiro New Deal
Não funcionava no Brasil
A farsa do perfídia astuto ardil
Carregada até dois mil

Palavras jogadas ao vento
Que foram moldadas naquele momento
Pensando em calar a galera da massa
Quem rouba, quem fala, quem mata, quem cala?

O calo na mão que não engana ninguém
Trabalho que é feito por cê sabe quem
Protesto por testas cheias de suor
Jornada dobrada por vida melhor

Os borogodó com a testa suando
Com medo da gente criar nosso plano
Pensando que é melhor que geral
Somente por tá num outro degrau

Piramidal, classe social
Nascendo e crescendo vivendo no esquema
É claro que iríamos achar natural
Não é natural, para nós é prensado

Não temos dinheiro, somos pau mandado
Por isso que os caras têm medo de nós
Vivemos no ódio e eles em Oz
Não tem o que perder, somente ganhar

Lutando para uma dia ver tudo mudar
Não tem o que perder, somente ganhar
Lutando para um dia ver tudo mudar
Tudo mudar

A incredulidade que sentira, quando as palavras atira
E incrivelmente as tira das desgraças da vida
Pelas dores sentidas, suas mágoas contidas
As crises repetidas criam novas vítimas

Onde estão os corpos íntimos?
Onde estão?
Os corpos íntimos estão
Onde estão?

Estranhos, substituindo os desânimos
Entranhas destituem os demônios
Castanhos, são as cores dos buracos em seu crânio
Incriminamo-nos por nada, culpamo-nos por tudo
Levamos o tumulto das lástimas para o túmulo, anátema!



Credits
Writer(s): Seu Barbosa
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