Queima do Zé

(intro)
Queima, queima
Queima o Zé
Ei compadre, chama o padre
Diz que o diabo tá enjaulado lá no adro
Açaimado e vendado
Ele pede ao padre que lhe traga um cigarro

(verso)
É bem provável acabar chalupa da minha cabaça
Intratável, sem casa, família caída em desgraça
A subir e descer nisto tipo Bom Jesus de Braga
Sempre o fiz descalço, não me venham cá dar graxa
Dou aos pedais como o peregrino de Aldoar
Querem a vida do Malhão, é ver vos a malhar
Piso palcos de braços no ar, sem fazer lagar
Plateia até lembra uma alcateia em noites de luar
Carrapato em solo sagrado
Sola do meu sapato sabe ser um arado nisto
Venha o mau olhado, olhem de cima ou de lado
Riça tem olhar de basilisco
Não nasci para criado, fui parido pra criar
O catraio há de ser um mito
Só quero deixar um recado
Meu nome é Zé do Telhado
Vão desejar nunca ficar ricos
Talento vem da solidão
No tempo em que os dentes eram penedos do marão
No tempo em que eu era uma merda, um puto marrão
A dar enxaquecas à terra com o meu som
Comi muita sopa, sem colher, sem broas
Cantei pelas sombras, com casas às moscas
Sacrifiquei moças, pratiquei na lousa
Pra ser a maldição das Caldas, o medo da louça
Sou monstro, demonstro
Escrevo com a direita só ouço cruzes canhoto
Se tombo no poço
Sou Maria Gancha e vossos filhos meu almoço
Não adianta o alho porro a dar no corno
Sou Arminda de Jesus, tenho o diabo no corpo
Sor Abade, venha de lá essa lenha e o fogo
Que eu não morro é o início de mais um retorno

(outro)
Senhor padre
Lume é bravo
Mas não arde na minha carne
Sou o diabo
Senhor padre
Sei que é chato
Volto cá reencarnado
Nos gaiatos

(verso)
Bicho carpinteiro por inteiro que aqui anda
Bisgo a dar com pau, sou Pauliteiro de Miranda
Diz se que o tinteiro que eu tenho é de sangue
Assinto emprestar o meu jeito, assino Dona Branca
A campa que me levar só no antigo das Antas
Tenta o meu tamanho, ó meu amigo nem de andas
Dá às chancas, pintar manta não adianta, vê se achantras
Santa Rita Pintor entrego o labor às chamas
Canta a tabuada, não contas com este abuso
Perdes o fio à meada, rói o teu sabugo
Sai chapada à pai, a tua tromba vira adufe
Pitéu da Mealhada quando à caneta dou uso
Língua afiadinha tipo a menina Virinha
Sou uma vinha americana que te fode forte a pinha
És quem veste as calças lá em casa à moda antiga
Mas vê se vais ao teu alfaiate fazer a bainha
Não me vês remelas, só olheiras belas
João Pestana nesta cama acaba sem barbela
Num quarto à luz de velas tiro a tosse a várias melgas
Enquanto conjuro acapellas pa queimar capelas
Se eu andar só a pele e costelas, tudo com cautela
Tiro da miséria a merda da minha moela
Visito ruelas, caço cabrões e cadelas
Degolo goelas como num sacrifício celta
Pátria cinzenta
Pá teria que inventar
Forma de deixar negras e dar brancas
A quem aqui tá a querer ser o capeta
Tão pitos, é uma pena
Enquanto esfrego um olho
Sangro os frangos para o alguidar
Guiso em água benta
Tá servida a merenda
Noviças e padrecos
Há canecos no meu lindo altar
Pomada é bem azeda
Tuga treme das canetas
Quem é que vai ao tapete
Um, dó, li, tá



Credits
Writer(s): Jose Leal
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