Ressaca.2 - Tudo que já nadei
Vida interrompida
De maneira brutal e imbecil
O que foi mesmo que ela disse naquele dia
Antes de eu ter dado um tapa na cara dela?
Não lembro
Mas revidou, claro
O dia em que ela ganhou a prancha de surfe
Foi tão hipnótico, foi um marco
Marina ganhou uma prancha
São flashes
Teve a tarde em que ela bradou pra família
Que iria, sim, pilotar o barco
Só deixavam os primos homens
Ela não queria saber
E eu e Clarisse, sua irmã mais nova
Íamos de vassalas da rainha Marina
E a gente ria tanto, porque tudo era tão sério
Que a gente só conseguia rir
Já era feminismo das jovens da década de 1990
Mas não sabíamos nomes
E estávamos cortando mato alto do terreno baldio
Da tradicional família tijucana
Mas era tudo hilário
E fazíamos xixi com a bunda pra fora do barco
Morrendo de rir
E ela, capitã, linda, estranha, linda
Segura do que fazia
Me viu fazendo teatro
Teatrinho, do colégio
Afirmou, como prima mais velha
Que aquilo seria a minha vida
Repetiu de ano, mas era a mais inteligente
Gargalhávamos com os mesmos dentes
Meu dentista era o dela
A gente respondia quando comentavam
Que éramos parecidas
A Guerra no Golfo
Janeiro de 1991
Marina vai para as ruas de paralelepípedos
De São Pedro da Aldeia
E começa a pular com fúria e bradar
Guerra! Guerra!
Quebrou o pé
Queria viver alguma mudança na vida
No século
Uma transformação
Louca, já bruxa e nem sabia
Me encantava a paixão pela independência
Pela busca das experiências
Pelo ineditismo
Pela coragem
A última vez que nos vimos
Estávamos no quarto de outra prima
Eu, ela e um menino de um ano
Brincávamos com ele, fazíamos cosquinha
Observávamos o princípio da vida
Perguntei seus planos para o aniversário
Uns dias depois
Me contou o que estava pensando
Triste pensar que já esqueci
Quais eram as ideias para aquela volta ao sol
Ela era bonita
Nariz pra baixo, na época não gostávamos
Hoje em dia, acho que as mulheres mais lindas
São as mais narigudas
Não estou me defendendo
E, sim, a minha prima
Morreu completando outra idade
Envelheci um século
Escrevi uma carta e acharam bom enterrá-la
Com o meu envelope ali dentro
Não consigo falar muito sobre essa carta
Isso define minha vida de maneira esquisita
Não sei quantos pesadelos
Mas lembro do sonho derradeiro
Uma década depois
Me avisando numa outra dimensão
Que agora estava livre
Houve revolta assim que morreu
As psicografias nos avisaram
Nem precisavam
Era ela, a revolta em pessoa
De maneira brutal e imbecil
O que foi mesmo que ela disse naquele dia
Antes de eu ter dado um tapa na cara dela?
Não lembro
Mas revidou, claro
O dia em que ela ganhou a prancha de surfe
Foi tão hipnótico, foi um marco
Marina ganhou uma prancha
São flashes
Teve a tarde em que ela bradou pra família
Que iria, sim, pilotar o barco
Só deixavam os primos homens
Ela não queria saber
E eu e Clarisse, sua irmã mais nova
Íamos de vassalas da rainha Marina
E a gente ria tanto, porque tudo era tão sério
Que a gente só conseguia rir
Já era feminismo das jovens da década de 1990
Mas não sabíamos nomes
E estávamos cortando mato alto do terreno baldio
Da tradicional família tijucana
Mas era tudo hilário
E fazíamos xixi com a bunda pra fora do barco
Morrendo de rir
E ela, capitã, linda, estranha, linda
Segura do que fazia
Me viu fazendo teatro
Teatrinho, do colégio
Afirmou, como prima mais velha
Que aquilo seria a minha vida
Repetiu de ano, mas era a mais inteligente
Gargalhávamos com os mesmos dentes
Meu dentista era o dela
A gente respondia quando comentavam
Que éramos parecidas
A Guerra no Golfo
Janeiro de 1991
Marina vai para as ruas de paralelepípedos
De São Pedro da Aldeia
E começa a pular com fúria e bradar
Guerra! Guerra!
Quebrou o pé
Queria viver alguma mudança na vida
No século
Uma transformação
Louca, já bruxa e nem sabia
Me encantava a paixão pela independência
Pela busca das experiências
Pelo ineditismo
Pela coragem
A última vez que nos vimos
Estávamos no quarto de outra prima
Eu, ela e um menino de um ano
Brincávamos com ele, fazíamos cosquinha
Observávamos o princípio da vida
Perguntei seus planos para o aniversário
Uns dias depois
Me contou o que estava pensando
Triste pensar que já esqueci
Quais eram as ideias para aquela volta ao sol
Ela era bonita
Nariz pra baixo, na época não gostávamos
Hoje em dia, acho que as mulheres mais lindas
São as mais narigudas
Não estou me defendendo
E, sim, a minha prima
Morreu completando outra idade
Envelheci um século
Escrevi uma carta e acharam bom enterrá-la
Com o meu envelope ali dentro
Não consigo falar muito sobre essa carta
Isso define minha vida de maneira esquisita
Não sei quantos pesadelos
Mas lembro do sonho derradeiro
Uma década depois
Me avisando numa outra dimensão
Que agora estava livre
Houve revolta assim que morreu
As psicografias nos avisaram
Nem precisavam
Era ela, a revolta em pessoa
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