Ressaca.4 - Tudo que já nadei
Letícia, você se afeta muito
Desafetada, fui congelar o grelo
Julguei melhor
É amor que vocês querem?
Era uma vez uma mulher que morava numa cidade enorme
E, quando estava, coluna, prestes
A comprar uma espingarda de chumbinho
Pra aterrorizar os ensandecidos que buzinam aleatoriamente
Achou de bom grado digitar no YouTube: barulhos do mar
Descobriu uma vasta gama de trilhas marinhas
Com ou sem chuva
Apenas o vai e vém das ondas
Alguns glub-glubs
De peixes ou mergulhadores
Testou vários
Até se adaptar a uma trilha específica
Oito horas ininterruptas
De barulho de ondas leves quebrando na areia
Achou que não conseguiria
Temeu fazer xixi na cama
Mas logo se adaptou
Logo ficou viciada
Uma noite foi dormir com um homem
Após umas semanas de recusas
Por medo do pós-sexo
O homem também morava em ambiente metropolitano
E ela, com medo de assumir o vício
Com medo de dizer: Não sei dormir
Com medo de já chegar chegando com as manias
Fingiu conseguir dormir
Mentira, nunca mais se falaram
Trocou a paixão pelo sono, julgou melhor
Costumava fazer isso, essa mulher
O homem sofreu um bocado
E se julgou ruim de cama por meses
E ela tinha adorado
Mas adorava mais dormir
Porque não conseguia
Quem não consegue
Adora quando
Um dia foi convidada para ser madrinha de casamento
Numa cerimônia a se realizar na praia
Se preparou quinhentos reais
Além do que gostaria
Havia muitos anos não ia à praia
Não lembrava quantos
Não lembrava nem se já tinha ido
Alguma vez à praia de verdade
Ou se aquelas fotos desbotadas
No álbum mofado da casa da mãe
Eram da irmã na praia, muito parecidas
Mesmos olhos, mesmo cabelinho
Ela se posiciona no lugar designado às madrinhas
Um bocejo, dois bocejos, três bocejos
A moça ao lado, completa desconhecida
Dá uma cotovelada
A mulher tenta resistir
Mas, tal qual narcolépticos
Apaga em pé e vai tombando aos poucos
Não chega a tombar
Já que é escorada pelas outras madrinhas
A cerimonialista tenta acordá-la
Chega a esbofeteá-la
Mas nada adianta para a mulher
Que agora embarca numa dimensão onírica
Testam seu pulso e percebem que, não
Ela não está morta
A noiva constrangida diz
Nossa que chato tudo isso, hein?
Puxa vida!
O noivo ri e diz: Tudo bem, amor
Esse vídeo vai ter mais de um milhão de views
A cerimonialista liga para uma ambulância
Alguns padrinhos são chamados
Para retirá-la do palco montado perto do mar
Barulho de cozinha, portas abrindo
Barulho de panelas, pratos, talheres, ela acorda
Desafetada, fui congelar o grelo
Julguei melhor
É amor que vocês querem?
Era uma vez uma mulher que morava numa cidade enorme
E, quando estava, coluna, prestes
A comprar uma espingarda de chumbinho
Pra aterrorizar os ensandecidos que buzinam aleatoriamente
Achou de bom grado digitar no YouTube: barulhos do mar
Descobriu uma vasta gama de trilhas marinhas
Com ou sem chuva
Apenas o vai e vém das ondas
Alguns glub-glubs
De peixes ou mergulhadores
Testou vários
Até se adaptar a uma trilha específica
Oito horas ininterruptas
De barulho de ondas leves quebrando na areia
Achou que não conseguiria
Temeu fazer xixi na cama
Mas logo se adaptou
Logo ficou viciada
Uma noite foi dormir com um homem
Após umas semanas de recusas
Por medo do pós-sexo
O homem também morava em ambiente metropolitano
E ela, com medo de assumir o vício
Com medo de dizer: Não sei dormir
Com medo de já chegar chegando com as manias
Fingiu conseguir dormir
Mentira, nunca mais se falaram
Trocou a paixão pelo sono, julgou melhor
Costumava fazer isso, essa mulher
O homem sofreu um bocado
E se julgou ruim de cama por meses
E ela tinha adorado
Mas adorava mais dormir
Porque não conseguia
Quem não consegue
Adora quando
Um dia foi convidada para ser madrinha de casamento
Numa cerimônia a se realizar na praia
Se preparou quinhentos reais
Além do que gostaria
Havia muitos anos não ia à praia
Não lembrava quantos
Não lembrava nem se já tinha ido
Alguma vez à praia de verdade
Ou se aquelas fotos desbotadas
No álbum mofado da casa da mãe
Eram da irmã na praia, muito parecidas
Mesmos olhos, mesmo cabelinho
Ela se posiciona no lugar designado às madrinhas
Um bocejo, dois bocejos, três bocejos
A moça ao lado, completa desconhecida
Dá uma cotovelada
A mulher tenta resistir
Mas, tal qual narcolépticos
Apaga em pé e vai tombando aos poucos
Não chega a tombar
Já que é escorada pelas outras madrinhas
A cerimonialista tenta acordá-la
Chega a esbofeteá-la
Mas nada adianta para a mulher
Que agora embarca numa dimensão onírica
Testam seu pulso e percebem que, não
Ela não está morta
A noiva constrangida diz
Nossa que chato tudo isso, hein?
Puxa vida!
O noivo ri e diz: Tudo bem, amor
Esse vídeo vai ter mais de um milhão de views
A cerimonialista liga para uma ambulância
Alguns padrinhos são chamados
Para retirá-la do palco montado perto do mar
Barulho de cozinha, portas abrindo
Barulho de panelas, pratos, talheres, ela acorda
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