Ressaca.9 - Tudo que já nadei

O que foi? O que aconteceu?
Ele demora, mas diz que perdeu a aliança no mar
Alguns se juram especiais e mergulham
Tentando achar um anel no meio do oceano Atlântico

Sua companheira fica apreensiva dentro do barco
Estou alucinada, mas estou acompanhando tudo
Sabendo que Iemanjá não é boba nem nada
E esse anel já achou caminho

O rapaz diz coisas como
Amor, eu vou mandar fazer outra igual
Nisso, a moça tira a própria aliança
E joga no mar idem

Eu acho que aplaudo, se não aplaudi
Foi porque meus movimentos me impossibilitaram na hora
Mas estou aqui, aplaudindo agora

Foi das cerimônias de casamento
Mais lindas que já presenciei na vida
Quell'edizione!

Atlântida, memória da célula
Falam muito da lua cheia, entendo o furor
O visível sempre chapa mais nossa sociedade
Excitada imageticamente

Mas o que me panca mesmo é a ausência de lua, o breu
Fico mais maluca quando a lua não aparece
Que quando ela inunda

Lua cheia eu manjo, já saco tudo de longe
Porrada, tesão, ególatras e tímidos
Grande caldeirada humana
Done that, been there

Mas sem lua, eu embriono
Tipo um animalzinho, fico sem guia
E daí é preciso aguçar o olfato
O tato, quiçá a gustação
O breu me assusta, mas me aguça

Lua nova é a terra e o sol alinhados
Atração braba, maré alta
Nenhum fiapo de lua no céu
Nada, sem guia, sem areia

O mar espancando o calçadão
Opto pela água de coco do quiosque
Não a caipirinha batizada
É madrugada, estou sozinha
Como esse grupo de gringos
Sentados com pouco frio

Com meu casaco de neve
Garantindo risadas estrangeiras
E um pouco da minha saúde
Resolvo fazer um brinde para a lua, mesmo sem ela

É preciso homenagear as pessoas em segredo também
Não só publicamente ou no Facebook
Ou no Instagram, ou no Twitter, ou no YouTube
Ou no Tumblr, ou no Pinterest, ou no Flickr
Ou no Tinder, ou no Grindr, ou no Happn

A brindes secretos e telepáticos, estou aderindo
Resolvo ir para casa, dou boa noite aos peixes
Me pergunto se eles sentem que é noite
Penso que deveria ter bebido a caipirinha
Para elaborar uma boa resposta a essa minha dúvida

Calçadão, lua nova, desço a rua
Rato morto, barata viva
Boa noite Seu Francisco, elevador
Quarto que me concederam, travesseiro
Durmo pelada, escolho um sonho, é fatal, arrebentação

Danixelas
Optou por nunca mais usar biquíni
O elástico na virilha limitava um movimento mais livre
Que ela sempre buscou

Como o mundo não estava preparado para sua nudez misteriosa
Jogava um pano em cima de si
E nadava como se estivesse num videoclipe
De uma banda legal dos anos 1990

Que, infelizmente, são cada vez mais tomadas
Pelos que julgam que os bons costumes
São apenas o que eles pensam que são

A cordinha do biquíni pesando no pescoço
O maiô incomodando no colo
O biquíni apertando as ancas, não com ela

Começou a comprar uns tecidos loucos
E ai de quem não achasse que aquilo era traje de banho
E não havia sinais de associações com o Oriente Médio
Não havia suspeitas de: essa menina deve ter uma cicatriz horrível
Nada de tal coisa

Era sabido, quando ela chegava na praia, mesmo com um pano
Que aquela era a mulher mais nua que a areia já tinha conhecido
Euros reais



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