Ressaca.12 - Tudo que já nadei

Fazendo uma conta por alto
Eu devo ir ao mar uma vez por semana
O que seriam uns 750 dias desde os 18 anos
750 mais 540, igual a 1290 dias de mar
Tenho, é pouco ainda

Agora tenho 38 anos, sou de humanas
E estou sem forças pra atualizar essa conta
A pandemia causou estragos em tudo e também
No meu cálculo pessoal de dias de água marinha
Narcisística? Sim! Desesperada? Muito!

Líquido G

Tenho muito medo de ser a única acordada
Detesto ser gado em outras circunstâncias
Mas quando todos dormem, quero dormir também
Me ajuda a ser forte dormir enquanto todos

Na cidade grande, temo menos
Os barulhos que reconheço me enganam bem
Na natureza, enlouqueço
Falam tanto que a natureza é linda, nossa amiga
Devemos respeitá-la, et ceteras mil

Mas a natureza também é opressora pra dedéu
E não é nada nossa amiga
E muitas vezes devemos desrespeitá-la
Se quisermos sobreviver

Matei aranha peludésima há quatro dias
Na casa de praia da minha avó Marphisa
Sou traumatizada pela história de uma conhecida
Que teve uma invasão auricular de aranha, pense

Mas, sim, até minha avó tem radical marinho
Porém caprina como eu
E teve filha peixes, no caso, minha mãe

Tenho grande atração por situações
Com condições mínimas
Seja pobreza ou reality show

Não é fascínio de beleza
Até porque ver um documentário na TV Comunitária
Sobre uma senhora no sertão que tem dez filhos
Não contém beleza alguma
Mas o heroísmo em conseguir me intriga

E eu termino aos prantos
Emocionada com a mulher
Com ódio do governo, fico um caco
E depois não sei por que sofro de insônia
Risos e choros

Não tenho estrutura alguma pra sobreviver
Sem as coisas a que já sobrevivo
Ridícula? Sim, um bocado!

Falando em situações com condições mínimas
Amo quando o reality show Largados e Pelado
É em lugar de praia, todos se lascam
Todos rebolam, todos acham que sabem

Fico em casa, confortável num sofá
Julgando todas as ações que todos tomam
Parece bobagem, mas aprendo bastante
Mentira

Líquido H

Gosto quando falta pouco pra chegar em casa
E os últimos sinais de trânsito
Me enchem de esperança
De quem tem ovo e pão em casa
Como se eu estivesse apertada
Caganeira súbita ou xixi além da bexiga

Vai dando meu terreno
E eu vou ficando feliz demais
Reconhecendo cada poste
E acalmando o demônio ansioso
Que mora no meu ouvido

Gosto quando falta pouco
Para molhar o pé na água
E os últimos grãos de areia úmidos
Me enchem de esperança
De quem tem ovo e pão em casa

Líquido I

Moro no Rio Comprido
Comprei uma bicicleta dobrável
Consigo levá-la no ônibus
Pego o túnel Rebouças, salto na Lagoa
Abro a bike e vou pela lagoa até a praia

No caminho, vejo uma arara
Ela parece estar presa, mas quem não está?
Não me aproximo
Mas faço uma foto com o máximo de zoom

Chegando à praia, um pinguim
Ele parece estar perdido, mas quem não está?
Não chego a fazer foto como todos
Mas me aproximo como...



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