Ressaca.20 - Tudo que já nadei
Parecia ácido, parecia mescalina, parecia nascer
Sem beijo, sem sexo, sem drogas
Comida ou música
Acho que eu até conseguiria
Arrisco dizer
Que seria a pessoa mais insuportável do planeta
Mais do que já sou
Mas conseguiria
Já sem mar, não seria possível ficar em pé
Eu só fico em pé
Se há a garantia lisérgica
De que vou me ajoelhar em água salgada
Mais que primas, vivas
O lugar mais bonito do mundo
Era um trecho de grama-japonesa
Num terreno meio baldio, perto de um rio
Numa cidade de praia no Espírito Santo
Isso devia ser o quê? 1995 ou 96, talvez
Marina ainda viva, Clarisse e eu, suas súditas
Clarisse devia sofrer um pouco porque era irmã
Eu tinha a mítica de ser prima
A gente sempre é meio apaixonada
Pelos primos e primas quando criança, não?
Como são maravilhosas as pessoas que não conhecemos
Como disse Millôr
Irmãos e irmãs, a gente sabe de tudo, primas, não
Era janeiro, estávamos em Meaípe
Casa de praia de uma tia
A casa era numa ruazinha
Um dia decidimos ir além da casa
E ver o que tinha no final da rua
Viramos à esquerda, rua de terra
Fomos andando
Acompanhando o rio meio sujo que tinha
O caminho era feio e de repente
Sem qualquer aviso de propriedade privada
Ou algo assim, um trecho
Apenas um trecho com grama-japonesa
E uma rosa perturbadoramente bonita
E eu jamais fui fã de rosa ou algo assim
Não sei se cabe contar
Que na minha única tentativa de plantar uma rosa
Enquanto cavucava a terra para abrir espaço
Senti algo forte, preso
Julguei ser raiz e puxei com força
E eis que surge em minha mão
Um sapo morto, petrificado
Nunca mais plantei rosa alguma
E ainda hoje lembro do sapo-raiz, sapo-cipó
Esse trecho devia ter uns cinco metros
Era um jardim sem dono
Sem grade, no meio da feiura
Ficamos perplexas, bobas até
Marina amava dar títulos, apelidos e disse
Aqui vai se chamar: o lugar mais bonito do mundo
Criou esse segredo
Então, quando os primos estavam chatos
Ou a rivalidade entre meninos e meninas acirrava
Ela dizia: Vamos ao lugar mais bonito do mundo
E nós íamos, ninguém sabia onde era
Ninguém entendia
Sentávamos na grama-japonesa
Aquilo ainda era uma novidade muito fresca
A rosa era comprida, única, solitária
De estilo inacreditável
A gente não entendia como
E porque aquele trecho existia
Mas ele existia
E com os corpos queimados no pós-praia
Algum short jeans enfiado no rabo
Ostentando pulseiras da moda vigente
Pelos dourados por água-oxigenada
Ficávamos ali, alguns minutos
Talvez uma hora até
Não havia nada para fazer
Não havia ainda um assunto que nos capturasse tanto
A ponto de fazermos teorias
Ou a que nos dedicássemos com afinco
Apenas existíamos nesse trecho de grama-japonesa
Sem beijo, sem sexo, sem drogas
Comida ou música
Acho que eu até conseguiria
Arrisco dizer
Que seria a pessoa mais insuportável do planeta
Mais do que já sou
Mas conseguiria
Já sem mar, não seria possível ficar em pé
Eu só fico em pé
Se há a garantia lisérgica
De que vou me ajoelhar em água salgada
Mais que primas, vivas
O lugar mais bonito do mundo
Era um trecho de grama-japonesa
Num terreno meio baldio, perto de um rio
Numa cidade de praia no Espírito Santo
Isso devia ser o quê? 1995 ou 96, talvez
Marina ainda viva, Clarisse e eu, suas súditas
Clarisse devia sofrer um pouco porque era irmã
Eu tinha a mítica de ser prima
A gente sempre é meio apaixonada
Pelos primos e primas quando criança, não?
Como são maravilhosas as pessoas que não conhecemos
Como disse Millôr
Irmãos e irmãs, a gente sabe de tudo, primas, não
Era janeiro, estávamos em Meaípe
Casa de praia de uma tia
A casa era numa ruazinha
Um dia decidimos ir além da casa
E ver o que tinha no final da rua
Viramos à esquerda, rua de terra
Fomos andando
Acompanhando o rio meio sujo que tinha
O caminho era feio e de repente
Sem qualquer aviso de propriedade privada
Ou algo assim, um trecho
Apenas um trecho com grama-japonesa
E uma rosa perturbadoramente bonita
E eu jamais fui fã de rosa ou algo assim
Não sei se cabe contar
Que na minha única tentativa de plantar uma rosa
Enquanto cavucava a terra para abrir espaço
Senti algo forte, preso
Julguei ser raiz e puxei com força
E eis que surge em minha mão
Um sapo morto, petrificado
Nunca mais plantei rosa alguma
E ainda hoje lembro do sapo-raiz, sapo-cipó
Esse trecho devia ter uns cinco metros
Era um jardim sem dono
Sem grade, no meio da feiura
Ficamos perplexas, bobas até
Marina amava dar títulos, apelidos e disse
Aqui vai se chamar: o lugar mais bonito do mundo
Criou esse segredo
Então, quando os primos estavam chatos
Ou a rivalidade entre meninos e meninas acirrava
Ela dizia: Vamos ao lugar mais bonito do mundo
E nós íamos, ninguém sabia onde era
Ninguém entendia
Sentávamos na grama-japonesa
Aquilo ainda era uma novidade muito fresca
A rosa era comprida, única, solitária
De estilo inacreditável
A gente não entendia como
E porque aquele trecho existia
Mas ele existia
E com os corpos queimados no pós-praia
Algum short jeans enfiado no rabo
Ostentando pulseiras da moda vigente
Pelos dourados por água-oxigenada
Ficávamos ali, alguns minutos
Talvez uma hora até
Não havia nada para fazer
Não havia ainda um assunto que nos capturasse tanto
A ponto de fazermos teorias
Ou a que nos dedicássemos com afinco
Apenas existíamos nesse trecho de grama-japonesa
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